Ricardo, J. (2020). A DOR DE TODAS AS RUAS VAZIAS. Revista Vórtex: Vortex Music Journal 8(2).
https://doi.org/10.33871/23179937.2020.8.2.17
ABSTRACT
Captação em vídeo da obra A dor de todas as ruas vazias, composta no âmbito do Laboratório de Criação de Ópera Contemporânea, organizado pela Inestética companhia teatral, e estreada no Palácio do Sobralinho, em Vila Franca de Xira, a 26 de janeiro de 2019, sob direção artística do compositor Luís Soldado e do encenador Alexandre Lyra Leite.
A sua conceção tem como base a sistematização de uma metodologia de composição, desenvolvida como trabalho final de mestrado em Artes Musicais, que testa uma possível associação entre componentes textuais e elementos musicais. Poderá ser encarada como uma transcrição de caraterísticas textuais para parâmetros musicais. Para isso foi desenvolvido um processo de transcrição em que o texto é tratado como dados em bruto – consoante os caracteres individuais e combinações entre letras, em silabas, palavras ou frases – resultando em sequências numéricas e alturas de notas, e usadas na construção e motivos, acordes, estruturas, etc.; destas transcrições resultam séries de notas musicais, com alturas e durações específicas, que são tratadas como o material musical disponível para o compositor. Não se trata de uma simples transcrição ou codificação direta de texto em música, mas sim da exploração de como estes processos criptográficos podem ser aplicados artística e criativamente.
O libreto consiste no poema de Al Berto Notas para o Diário (Al Berto 2017: 39-40), e a vertente criptográfica foi conseguida a partir de fragmentos retirados do livro As Flores do Mal, de Fernando Pessoa. Em cada um dos cinco atos um diferente fragmento de texto de Pessoa serviu de material criptográfico:
Ato I: “Morreu em mim mais do que o meu passado” (Pessoa 2014: 21);
Ato II: “Absolutamente doido só por sentir, absolutamente roto por me roçar contra as coisas” (Pessoa 2014: 45);
Ato III: “Julga-te sempre mais triste e mais infeliz do que és” (Pessoa 2014: 61);
Ato IV: “Dê-me de beber, que não tenho sede” (Pessoa 2014: 85);
Ato V: “Nunca fiz mais do que fumar a vida” (Pessoa 2014: 137).
KEYWORDS
música, texto, composição, criptografia, processo criativo.